sábado, 29 de agosto de 2009

SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA DA GESTORA/SUPERVISORA

RESENHA BASEADA NA OBRA DE PAULO FREIRE - PEDAGOGIA DA ESPERANÇA: UM REENCONTRO COM A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

Por Ana Fausta Borghetti*


Introdução

A obra a ser trabalhada nesta resenha é Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido, de Paulo Freire. Esta obra foi escolhida num momento em que a aluna estava procurando motivos para voltar a acreditar na instituição escola, no grupo de professores e funcionários como uma equipe que sonha, que briga, que luta por ideais. Motivos que façam com que sonhemos novamente com uma sociedade igualitária, respeitosa, que consiga enxergar ao seu redor e, que confirme que esta construção passa pela educação.

O título Pedagogia da esperança um reencontro com a pedagogia do oprimido já nos enche de expectativas para uma leitura que nos mostra que é possível esta construção de instituições capazes de auxiliar o ser humano no verdadeiro encontro consigo mesmo. Instituições com pessoas capazes de tornarem-se melhores, evoluírem, crescerem e enxergarem a grandeza deste processo.


Apresentação do Autor e da Obra

Paulo Freire é um dos pedagogos brasileiros mais conhecidos no mundo por nos trazer reflexões, na sua maioria, simples sobre o verdadeiro significado da educação, sobre o verdadeiro papel do professor, sobre a grandeza da relação professor – aluno. Este pernambucano foi um menino que cresceu em meio à pobreza o que, de certa maneira, o obrigou a ver e ouvir o mundo e as pessoas com o coração e este é o seu diferencial, este é o seu maior ensinamento: ver e ouvir com o coração.

A Pedagogia da esperança começa trazendo momentos muito marcantes vividos na pedagogia do oprimido: momentos do exílio – momentos de medo, de saudade, de ESPERANÇA. “Na minha primeira noite em La Paz, ainda sem sofrer o mal da altitude que me atacou no dia seguinte, refleti um pouco sobre a educação da saudade, que tem a ver com a Pedagogia da esperança.” (p. 34)

Acredito que tenha sido neste momento que nasceu a Pedagogia da Esperança, mas a obra nos traz também momentos em que o autor convive com camponeses, com pessoas simples, conhece suas verdades, suas crenças e, assim, entra em contato com a SABEDORIA DO POVO.

Minhas longas conversas com pescadores em suas caiçaras na praias de Pontas de Pedra, em Pernambuco, como meus diálogos com camponeses e trabalhadores urbanos, nos córregos e morros do Recife, não apenas me familiarizaram com sua linguagem mas também me aguçaram a sensibilidade à boniteza com que sempre falam de si, até de sua dores, e do mundo. (Freire, 1994, p. 69)
A obra foi escrita na década de 90 em meio a “democratização da sem vergonhice que vem tomando conta do nosso país” (p.10). Neste momento, o povo sai as ruas o que para o autor é motivo de esperança. Esperança de uma verdadeira democracia, com a participação efetiva do povo. Freire ainda dizia: “Há uma esperança em cada esquina.” (p.10)

Neste ensaio, Paulo Freire nos conta sobre visitas a países da América Latina, Central, Caribe e África para (re)discutir idéias que estão na Pedagogia do Oprimido. E palestrando, conversando, visitando, vivendo, revive e, algumas vezes, esclarece, os principais pontos abordados na Pedagogia do Oprimido.

Durante a obra, Paulo Freire não cria uma educação elitista, mas tem a coragem de num país elitista propor uma educação popular e, sua teoria é muito simples – é auxiliar na construção de um ser humano humanizado. Mas, para que isto aconteça, é necessário que antes, nós profissionais da educação nos humanizemos e, isto só acontecerá no momento em que nos enxergarmos, não com egoísmo e arrogância, mas como seres em construção, em busca de sermos melhores a cada dia, a cada encontro e, nos permitamos entender e respeitar, sem julgamento, que o nosso aluno e o nosso colega, também está em construção.

...quem sabe possa ensinar a quem não sabe é preciso que, primeiro, quem sabe saiba que não sabe tudo; segundo, que, quem não sabe, saiba que não ignora tudo. Sem esse saber dialético em torno do saber e da ignorância é impossível a quem sabe, numa perspectiva progressista, democrática, ensinar a quem não sabe.(Freire, 1994, p.188)

O importante é assumirmos o papel de aprendizes neste grande laboratório que se chama vida. Assumir o papel de aprendiz nada mais é do que agir – refletir – agir, que é uma das categorias de Paulo Freire.


Categorias

A primeira e, talvez principal categoria que aparece na obra é o inédito-viável. O próprio título nos aponta a existência desta categoria e pode ser comprovada quando Freire coloca que o exílio traz muitos sentimentos mas, em especial da esperança. A esperança de voltar para casa, de rever a família, amigos, de receber uma carta e, de maneira mais profunda de mudar valores de um país.

O saber necessário à gestora/supervisora quanto a esta categoria é de nunca perder a esperança em relação ao utópico, em relação ao auxílio na construção de seres humanos melhores, mais iluminados, de instituições voltadas para todos, para uma aprendizagem de evolução. É preciso ter coragem para ultrapassar “situações-limites” e caminhar em busca do sonho realizável e, junto a esta realização humanizar e concretizar o ser-mais. (p. 207)

Pode-se apontar neste período de exílio que o momento político-histórico que se vivia na América Latina traz na sua essência o papel da Supervisora, uma profissional que controla alunos e, principalmente, colegas, auxiliando ideais ditatorescos.

A segunda categoria encontrada é do senso-comum. A sabedoria e cultura populares não podem morrer pois caso isto aconteça, morrerá a humanidade. Para tanto, urge a necessidade de gestores, supervisores e educadores em geral entenderem a importância do “respeito ao saber de experiência feito” (p.28).

Não são os alunos que têm que entrar no nosso mundo; nós é que temos que entrar no mundo deles. “A necessidade de que, ao fazer o seu discurso ao povo, o educador esteja a par da compreensão do mundo que o povo esteja tendo. (p. 27)

Nesta categoria, o saber necessário à gestora/supervisora é de sempre respeitar a realidade e o nível de desenvolvimento de seus alunos e colegas e, entender que o saber popular é tão importante quanto o saber científico. Questionar a sabedoria acadêmica que até então não auxiliou na construção de uma humanidade mais humana e, considerar a sabedoria popular.

Temos dificuldade de “ver” o outro. Pensamos que o nosso discurso todos entenderão e é neste momento que afastamos o outro. No exato momento em que não nos permitimos entrar no mundo deles. “Está aqui uma das questões centrais da educação popular – a da linguagem como caminho de invenção da cidadania” (p. 41)

Outro saber necessário encontrado aqui é de permitir que nossos alunos e colegas tenham voz – a sua voz, não o discurso formatado na escola e na academia, mas o discurso de vida deles, da sua realidade, das suas vivências. E, nós, precisamos ter a sensibilidade de conhecendo esta realidade, permitir a troca e o crescimento. Mas, para que consigamos dar voz aos outros é necessário que aprendamos a ouvir. Mas não é um simples ouvir, é ouvir com atenção, é o corpo todo estar centrado neste ato. É entrar em sintonia com o outro.

Freire confirma a importância deste discurso quando nos diz “na verdade, é no jogo das tramas de que a vida faz parte que ela – a vida – ganha sentido” (p. 35). E, nós educadores, supervisores, gestores, temos sempre pronto um discurso formatado e idealizado e, na maioria das vezes, damos pouca importância ao jogo de tramas da vida e ao aprendizado que este traz intrínseco.

Isto me leva a pensar na falta de comprometimento e de vontade que nossos alunos têm hoje. Qual o significado da escola para eles? Quais relações e aprendizados acontecem no ambiente escolar? Será que o nosso discurso não está muito distante, sem significado para estas crianças e adolescentes? Será que nós não estamos falando só do sal enquanto eles gostariam de falar do tempero como um todo? Aqui também podemos levantar a questão da interdisciplinaridade, da nossa divisão em caixinhas, da compartimentalização do conhecimento.



Considerações finais

O que fica muito claro é que nós supervisores/gestores/educadores precisamos nos voltar para a terceira categoria de Freire que está neste contexto que é a da ação – reflexão – ação. Não podemos nos considerar seres prontos, formados, que tem mais conhecimento que os outros porque isto é, no mínimo, questionável. Faz-se necessário criar ambientes de crescimento mútuo, de espaço para todos, um ambiente onde alunos e professores estudem, cresçam, desenvolvam-se como seres humanos e, para isto é fundamental que questionemos atitudes, problematizemos conteúdos e toda a realidade escolar.

Para finalizar trago Leonardo Boff, que no meu entender, coloca através de um pensamento o momento que nos encontramos e sugere a solução.


Uma asa mais uma asa...

O ser humano é semelhante a um anjo que entrou numa grave crise ao cair e perdeu uma asa. Com uma asa só não consegue mais voar. O que faz então? Abraça-se a outro anjo que também caiu e perdeu uma asa. Assim, um completa o outro. Abraçados, têm novamente duas asas. Superaram a crise. Erguem vôo e conseguem voar para seu destino.

Se não fossem solidários e se não se abraçassem mutuamente, estariam definitivamente perdidos. Uma asa mais uma asa não são duas asas, mas um anjo inteiro que recupera a sua integridade e sua capacidade de voar- e de voar nas alturas, realizando o chamado de sua natureza. (Boff, p. 110)

A partir do momento que supervisores, gestores, educadores em geral enxergarem-se e auxiliarem-se mutuamente, com certeza, estarão aptos para acolher e auxiliar crianças e adolescentes na sua evolução neste planeta.




* Graduada em Secretariado Executivo Bilíngue - Português/Inglês - Unisinos - 1993
Pós-graduada em Administração de Marketing - Unisinos - 1994
Pós-graduada em Gestão e Supervisão Educacional - FACOS - 2008

Professora horista do Centro Universitário Univates - desde agosto/2006
Diretora do Colégio Cenecista Mário Quintana - desde janeiro/2007
Vice-diretora do Colégio Cenecista Mário Quintana - de jan/2005 a dez/2006
Coordenadora do Centro de Línguas do Colégio Cenecista Mário Quintana - CMAQ 2001 a 2004
Professora de Língua Inglesa e Língua Italiana do Centro de Línguas do CMAQ 2000 a 2004
Coordenadora do Laboratório de Informática do CMAQ - 1995 a 2000
Professora de teatro, instrutora do Clube de leitura do CMAQ - 1997 a 1999


Resenha realizada na disciplina de Fundamentos Políticos-filosóficos e Sócio-pedagógicos da Gestão e Supervisão Educacional no curso de Lato Sensu em da Gestão e Supervisão Educacional/FACOS- na cidade de ENCANTADO/2007 pela docente Rosane Oliveira Duarte Zimmer

Referências bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança Um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 3ª. Edição, 1994, ed. Paz e Terra.

BOFF, Leonardo. A força da ternura – pensamentos para um mundo igualitário, solidário, pleno e amoroso. 1ª. Edição, 2006, ed. Sextante.

MEDO E OUSADIA ¹

por Josenice Panizzon ²

É impossível ensinar sem ousar. (Paulo Freire)



“O que é ensino libertador? O que é ensino dialógico? Como o professor se transforma em educador libertador? Como é que os estudantes iniciam seu processo em um método dialógico?” (FREIRE e SHOR, 1986, p.11). Essas e outras indagações relacionadas à educação libertadora é o que vamos encontrar na obra que nos propomos a resenhar.
De autoria de Paulo Freire e Ira Shor, o livro, em forma de diálogo, discute questões cotidianas pertinentes ao processo de ensino e aprendizagem ainda existentes em nosso atual contexto histórico. Analisa elementos que se constituem em desafios reais e concretos na perspectiva da reinvenção e recriação dos espaços escolares. Em suma, apresenta as dinâmicas, os medos, ousadias e as potencialidades dos diferentes sujeitos comprometidos com o processo pedagógico.
Paulo Freire, pedagogo, filósofo, escritor, “cidadão do mundo”, autor de várias publicações, de modo especial, o livro intitulado “Pedagogia do Oprimido”, cuja obra analisou e auxiliou enfaticamente a prática educativa hodierna, bem como sua significativa contribuição para a alfabetização de jovens e adultos, prática essa que o levou ao reconhecimento mundial como educador.
Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife, Pernambuco. Alfabetizou-se em sua própria casa, partindo de suas próprias palavras, de sua prática, de sua experiência. Foi exilado durante a ditadura militar brasileira, retornado ao país somente após a deposição desse mesmo sistema político.
Fazia da educação sua paixão. Vivia, vivenciava e “saboreava” a causa educativa. Morreu em 02 de maio de 1997, em São Paulo, esperançoso pelas mudanças sociais, cujo desfecho vinha ocorrendo sob variados aspectos, tais como “as marchas” das mulheres, o movimento dos sem terra, dos desabrigados, dos gays, etc. Sempre acreditou no ser humano, como agente de constante transformação, sendo contrário ao “determinismo histórico” e ao “fatalismo social”, próprios de nossa época. A importância de sua obra está em defender a educação como pressuposto norteador da transformação social, partindo da concepção e da construção de novas relações pedagógicas.
Ira Shor, educador norte-americano, estudioso e crítico dos rumos da reforma da educação em seu país. Esteve ligado na luta pela melhoria das condições de ensino, de modo especial, à classe trabalhadora americana e demais minorias sociais marginalizadas.
A obra é toda baseada no diálogo entre esses dois educadores. Sendo assim, torna-se indispensável para a elucidação dos problemas práticos e teóricos colocados pela pedagogia dialógica. É também referência no que diz respeito à riqueza de informações, construção de conceitos, análises e exemplificações acerca do “cotidiano do professor”.
A característica primordial deste texto está em se constituir em um livro falado. Freire (p.13) justifica, dizendo que “[...] é que o diálogo é, em si, criativo e re-criativo.” E Shor (p.13), por sua vez, ratifica, escrevendo, “[...] espero que encontremos um estilo dançante. Assim, seremos ao mesmo tempo poéticos, divertidos e profundos.”.
O livro divide-se em sete eixos norteadores que são todos especificados, elucidados e exemplificados no decorrer da leitura, estabelecendo-se continuamente ligações intrínsecas com a temática central “medo” e “ousadia”, possibilitando, dessa forma, uma leitura envolvente, dinâmica e extremamente informativa, conceituando e reconceituando os modelos educativos vigentes.
Cada capítulo trata de assuntos específicos, podendo até serem analisados de forma metódica, isolada e, paradoxalmente, as outras leituras e obras de Paulo Freire.
A primeira parte do livro aborda as possibilidades e saberes que um professor deve possuir para transformar-se em um educador libertador, enfatizando o modo, pelo qual à educação se relaciona com a mudança social. Já no segundo capítulo evidencia os “temores” e os “riscos” da transformação, os quais devem ser encarados sem medo, pois ele “imobiliza” e estagna os sujeitos “aprendentes”. Os autores defendem que não devemos negar o medo, mas cultivá-lo, pois “[...] o medo vem de seu sonho político, e negar o medo é negar os sonhos”. (p.70)
Logo no terceiro eixo do livro encontramos a estrutura e o rigor necessários à educação libertadora. As classes dialógicas tornam iguais professores e alunos? Podemos constatar a relevância desse tema quando Shor afirma que (p.98) “[...] a abordagem dialógica é muito seria, muito exigente, muito rigorosa e implica numa busca permanente de rigor [...]”. Nesse aspecto, os autores desvelam de forma nítida sua aversão e contrariedade à definição de “rigor” postulada como sinônimo de “autoritarismo”. Salientam ainda, a importância da superação do ensino conteudista, “bancário”, instrucionalista e descontextualizado que apenas serve de suporte ao capitalismo e a classe dominante.
Na seqüência, o diálogo que segue, trata da conceitualização do “método dialógico de ensino”, onde Freire (p.123) diz que “[...] nós seres humanos, sabemos que sabemos e sabemos também que não sabemos. Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos a seguir, atuar criticamente para transformar a realidade”. Introduzem ainda novos conceitos e dinâmicas para as práticas docentes, enfatizando o valor significativo do diálogo, da ação em conjunto com os discentes e da escuta no processo educativo como formas fecundas para chegarmos à liberdade, a cidadania e a transformação.
Ira Shor inicia o quinto capítulo, denunciando a “cultura do silêncio” americana definida por ele como sendo “[...] uma tolerância passiva à dominação” (p.149). E anunciando uma “democracia da libertação”, defendia também por Freire (p.162) ilustrada na frase seguinte:“ [...] mudar as condições concretas da realidade significa uma prática política extraordinária, que exige mobilização,organização do povo, programas [...]”,onde exista de fato a atuação, o protagonismo dos sujeitos envolvidos nesse processo.
Nas duas últimas partes do “livro falado” a centralidade do diálogo são educadores e educandos, inferindo principalmente na questão “como podem os educadores libertadores superar as diferenças de linguagem existentes entre eles e os alunos?” (p.171). Indagando também se “Temos o direito de mudar a consciência dos alunos?” (p.203). Em síntese, agrega os “medos” e “ousadias” da educação emancipadora, conversando sobre como iniciar a transformação docente, discente e essa em comunhão com aquela. Freire (p.203) destaca que “o educador libertador nunca pode manipular os alunos e tampouco abandoná-los à própria sorte. [...] assume um papel diretivo necessário para educar”. Neste sentido, os alunos poderão constituir-se como agentes é como cidadãos em um mundo “para todos”.
É imprescindível destacarmos algumas expressões e conceitos, elencados por Freire e Shor relevantes para a nossa reflexão enquanto educadores, e gestores do século XXI, tais como “fatalismo social”, a distinção entre “Laissez-faire, educador autoritário e educador libertador”, “a relação capitalismo-currículo-alienação”, “transferência x diálogo”, “construção x verbalização”, “medo-política-sonho”, a educação como um ato inerentemente “político”, “Pedagogia libertadora x Pedagogia bancária”, “a linguagem do povo/realidade”, “produção x reprodução”, “autoridade x autoritarismo”, “educação e economia”, etc.
Dos conceitos elencados acima, um vem merecendo destaque no atual cenário educativo brasileiro, é a relação “currículo - capitalismo-alienação”. Este aspecto é evidenciado comumente por nós educadores e gestores durante o processo educativo de nossas escolas, sendo essencial refletirmos sobre algumas questões: se o objetivo maior da educação é formar cidadãos livres e conscientes, como pode o currículo, base dessa formação, estar impregnado de ideologias capitalistas, onde apenas beneficiam alguns?Que função paradoxal é esta que o currículo assume?O que está subentendido naquele “rol de conteúdos pragmáticos?” Quem realmente “formamos”?Qual a visão de “homem” e “mundo” nesse contexto?
A obra “medo e ousadia” retrata profundamente essa questão, atribui-lhe significação e propõe soluções viáveis por meio da prática libertadora. O maior agravante, nesse caso, apesar de termos acesso a todas essas informações, é a lentidão e a compartimentalização do processo de mudança, isto é, ou nos preocupamos com a reprovação ou então com a evasão, ora nos indagamos sobre os conteúdos, ora sobre a falta de interesse dos nossos alunos, como se tudo isso não estivesse interligado, como se não fizesse parte do mesmo processo.
Assim, acredito que a grande ousadia para a próxima década é concebermos a educação sob um enfoque político de mudança e de integração, sendo o propósito holístico, uma possível conseqüência disso, onde as relações se conjugam, sendo nosso papel, principalmente como gestores, entender essas relações, adaptá-las à nossa realidade e efetivar a mudança tanto almejada por meio da retomada de conceitos sistemáticos e globais em termos de educação. Enquanto tentarmos executar melhorias apenas parciais, sempre haverá uma “válvula de escape” para os velhos problemas, os quais serão renomeados e até reconfigurados, porém seu alicerce estrutural não sofrerá modificações.
Em contrapartida, se objetivamos, de fato, transformar a educação, necessitamos exaltar expressões como “autoridade / liberdade”, “democratização da escola pública”, “formação permanente”, sendo estas responsáveis e co-autoras pela superação da educação “bancária” para a emancipação.
A curiosidade epistemológica e a certeza de nosso inacabamento (Freire, 1996), serão o suporte necessário para a construção em conjunto de soluções para a problemática que envolve a educação, bem como de estabelecer bases para as projeções futuras.
Neste sentido, é indiscutível a relevância da leitura desta obra freireana para todos os educadores e gestores, pois nas palavras de Ana Maria Saul, ao também prefaciar esta obra (1986, p.8), referindo-se a Freire, salienta que “[...] este trabalho poderá dirimir muitas das nossas percepções equivocadas sobre o seu pensamento no que diz respeito às possibilidades da educação libertadora no contexto escolar”. Ademais, a obra é uma raridade para todos que acreditam no papel da educação e do educador na transformação da sociedade.
_________________
¹ Resenha da obra: FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia: O Cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, 224 p. Este trabalho fez parte das atividades pertinentes à disciplina Concepções Teóricas e Práticas de Gestão I e II, do curso de Especialização Latu Sensu em Supervisão e Gestão Escolar, na Faculdade da Serra Gaúcha, ministrada pela professora Mª. Rosane Zimmer.
² Pedagoga, Especialista em deficiências Múltiplas e aluna do Curso de Pós-graduação em Supervisão e Gestão Escolar, julho 2009.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Caminhos da Educação


por Aline Costa Foss, Cristina Araldi, Dionéia Brogliatto, Fernanda Guarreze Guisolfi, Josenice Panizzon, Maristela Argenta Webber, Rodrigo Schiavenin e Solange Lusa Rossi*



Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.

Da caverna a luz
Do mito a verdade
Da razão a ciência
A busca pela liberdade

Justiça igualdade
Sejamos Gregos na vitória!
E na virtude romanos!
Procuremos ensinar de acordo com a natureza humana

Proibir a educação?
Relegar o povo a miséria?
Coibir a voz do cidadão?
Será a idade das trevas?

Moderno, Oh moderno!
A ciência é teu fundamento
O ser é teu instrumento
A educação o caminho do conhecimento

Ordem e progresso!
Eis aqui o caminho do sucesso
Da educação estagnada
E da população alienada.

Vamos! Vamos! Rumo a libertação
O pensamento crítico renova a educação
Voltada para a formação do cidadão
Construindo uma nova nação

Nação esta que ainda carece de educação
E carrega os resquícios da colonização
Mas a força e a união, junto a ordem e progresso
Fazem nossa educação vingar com sucesso.


* Relatório de Ágora apresentado na disciplina de Concepções Teóricas e Práticas da Gestão I e II desenvolvida pela professora Msc.Rosane Oliveira Duarte Zimmer no Curso de Pós-graduação em Gestão e Supervisão Educacional pela Faculdade da Serra Gaúcha/agosto de 2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Jamais nos calarão


Rejane de Oliveira
Presidente do CPERS/Sindicato
Artigo publicado no jornal Zero Hora em 19/07/2009

Quando um aluno perguntar: “professora o que você fez pelo nosso futuro?” Poderemos dizer de cabeça erguida: nós lutamos incansavelmente.Lutamos para que a verdade apareça, mesmo que seja contra os interesses daqueles que têm a obrigação de divulgá-la. Lutamos para que as verbas da educação não sejam mais decepadas. Para que laboratórios, bibliotecas e escolas não sejam fechados. Para que crianças não tenham que estudar em escolas de lata.. Para que não reduzam os míseros salários dos educadores, em cumprimento de acordo com o Banco Mundial. Para que os problemas sociais não sejam deixados de lado, enquanto os recursos públicos podem estar sendo esvaídos pela corrupção.Estamos cumprindo o nosso papel ao ajudarmos a criar o Fórum dos Servidores Públicos Estaduais – formado por dez sindicatos, entre eles o Cpers. Sabemos que só com união poderemos estancar a derrama, a destruição do serviço público e o ataque às carreiras dos servidores.Só unidos pressionaremos pelo impedimento de um governo que vive sob o signo de escândalos – em denúncias, aliás, que vieram principalmente de quem esteve lado a lado com a governadora.Para aqueles que acham que passamos dos limites, perguntamos: até onde tem que se curvar um povo que tem seu Estado destruído e vilipendiado? Que tem a imprensa empurrada e presa? Que tem a voz calada pelos cassetetes e as mãos algemadas pelo autoritarismo? Que sofre com a tentativa de transformação de vítimas em algozes? Tudo isso por termos feito um ato pacífico na rua pública, em frente à mansão da governadora, cuja compra está envolta em denúncias de desvios de dinheiro e irregularidades.Aliás, nós já sofremos esse tipo de violência na ditadura militar e no Fora Collor. Mas, mesmo sofrendo essas acusações, não podemos calar, pois quando algo está errado, alguém precisa colocar a boca no trombone. Depois vem outro e mais outro, até que sejamos centenas, milhares, milhões. E é só quando o povo toma as ruas e exige seus direitos que as coisas se modificam. Foi assim contra a ditadura. Foi assim no Fora Collor. Será assim no Fora Yeda. Pois quem resistirá a centenas de milhares de pessoas gritando em uma só voz: impeachment já?Definitivamente, nós, educadores, podemos dormir com a consciência tranquila de não aderirmos à teoria dos que nada ouvem, nada falam e nada veem. Afinal, lutar também é educar.

arquivo pessoal