quinta-feira, 28 de maio de 2009

Paulo Freire em poesia*


Escolhi a sombra desta árvore para repousar do muito que farei, enquanto esperarei por ti. Quem espera na pura espera vive um tempo de espera vã. Por isto, enquanto te espero trabalharei os campos e conversarei com os homens. Suarei meu corpo que o Sol queimará; minhas mãos ficarão calejadas; meus pés aprenderão o mistério dos caminhos; meus ouvidos ouvirão mais; meus olhos verão o que antes não viam, enquanto esperarei por ti. Não te esperarei na pura espera porque meu tempo de espera é um tempo de que fazer. Desconfiarei daqueles que virão dizer-me em voz baixa e precavidos: é perigoso agir, é perigoso falar, é perigoso andar, é perigoso esperar, na forma em que esperas porque esses recusam a alegria de tua chegada. Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me com palavras fáceis, que já chegaste, porque esses, ao anunciar-te ingenuamente, antes te denunciam. Estarei preparando a tua chegada como o jardineiro prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera (FREIRE, 2000-b, p.5).
* Poesia escrita no exílio, em Gênova, em março de 1971, contida na obra Pedagogia da Indignação.

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